sábado, 5 de julho de 2008

FERNANDO PESSOA
































Fernando Pessoa (1888-1935)

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fonte: http://www.astormentas.com/pessoa.htm

quarta-feira, 2 de julho de 2008

EXCERTOS DE ESCRITORES LUSÓFONOS




















Pintura de Djanira Motta


"A floresta pariu de novo o cimento uma alma nova sinfonia da patchangae um cântico de liberdade!"
Vasco Cabral, Guiné-Bissau

"És tu minha Ilha e minha África forte edesdenhosa dos que te falam à volta".
Francisco José Tenreiro, São Tomé e Príncipe

"A s luzes da cidade brilham no morro. Ainda há pouco vinha do morro um baticum de candomblés e macumbas. Porém agora a cidade está longe e o brilho das estrelas está muito mais perto deles que as lâmpadas eléctricas".
Jorge Amado, Brasil

"Nha Chica conte-me aquela história dos meus irmãos hoje perdidos no mundo grande..."
António Nunes, Cabo Verde

"Era o tempo dos catetes no capim e das fogueiras no cacimbo. Das celestes e viúvas em gaiolas de bordão à porta de casas de pau-a-pique. As buganvílias floriam e havia no céu um azul tão arrogante que não se podia olhar. Era o tempo da paz e do silêncio à sombra de mulembas".
Luandino Vieira, Angola

"A terra treme, a areia salta, o suor escorre, as peles brilham e a voz do chigubo soa. São dois e o sangue à volta é o do chigubo. Os pés batem e o ritmo é bangue, o sangue esquece e só a dança fica, é sura e céu".
José Craveirinha, Moçambique

"Tata-Mailau é o pico-avô da minha ilha".
Fernando Sylvan, Timor

"À medida que as navalhas avançavam, as vinhas iam perdendo a graça, a força e a virgindade. E com esta desolação morria também um pouco da alegria dos vindimadores, que chegavam da Montanha sem sono, a cantar e a dançar, e que agora dormiam como lajes".
Miguel Torga, Portugal

Jorge AMADO, Jubiabá. Lisboa, Livros do Brasil, s.d.
José CRAVEIRINHA, «Chigubo», Hamina e outros Contos. Lisboa, Caminho, 1997 (2ª ed.), pp. 33-37.
Manuel FERREIRA, 50 Poetas Africanos. Lisboa, Plátano Editora, 1997 (2ª ed.).
Fernando SYLVAN, A Voz Fagueira de Oan Tímor. Lisboa, Edições Colibri, 1993.
Miguel TORGA, Vindima. Coimbra, 1997 (6ª ed.).
Luandino VIEIRA, O nascer do sol, A Cidade e a Infância. Lisboa, Edições 70-União dos Escritores Angolanos, 1977 (2ª ed.), pp. 79-87.


Fonte: http://www.instituto-camoes.pt/cvc/tempolingua/02.html

AI, PALAVRAS
















Cecília Meireles (1901-1964)

“A vida só é possível reinventada”


Ai, palavras, ai, palavras,
Que estranha potência a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
Sois de vento, ides no vento,
No vento que não retorna,
E, em tão rápida existência,
Tudo se forma e transforma!

(...)

A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...

(...)

Detrás de grossas paredes,
De leve, quem vos desfolha?
Pareceis de tênue seda,
Sem peso de ação nem de hora...
- e estais no bico das penas,
- e estais na tinta que se molha,
- e estais nas mãos dos juízes,
- e sois o ferro que arrocha,
- e sois barco para o exílio,
- e sois Moçambique e Angola!

(...)

Ai, palavras, ai, palavras,
Que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro de aragem...
- sois um homem que se enforca!



Biografia de Cecília Meireles

Poetisa, professora, pedagoga e jornalista, cuja poesia lírica e altamente personalista, freqüentemente simples na forma, mas contendo imagens e simbolismos complexos, deu a ela importante posição na literatura brasileira do século XX. Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 07/11/1901 e veio a falecer na mesma cidade em 09/11/64.
Casou-se duas vezes e deixou três filhas.
Embora vivendo sob ifluência do Modernismo, apresenta ainda em sua obra heranças do simbolismo e técnicas do classicismo, gongorismo, romantismo, parnasianismo, realismo e surrealismo, razão pela aual sua poesia é considerada intemporal.
Órfã desde tenra idade, foi criada pela avó Jacinta Garcia Benevides. Desde cedo habituou-se ao exercício da solidão, tendo precocemente desenvolvido sua consciência e sensibilidade. Começou a escrever poesia aos 9 anos de idade. Tornou-se professora pública aos 16, destacando-se como aluna exemplar, merecendo a estima dos mestres.
Dois anos depois iniciou sua carreira literária com a publicação de Espectros (1919), uma coleção de sonetos simbolistas.
A década de 20 foi uma época de revolução na literatura brasileira, mas o trabalho de Cecília naquele período mostra pouca afinidade com as tendências nacionalistas então em voga, ou com o verso livre e a linguagem coloquial.
Boa parte dos críticos, inclusive, consideram suas formas mais tradicionais de poema (como sonetos) o ponto mais alto de sua obra. Com Nunca mais . . . e Poema dos Poemas (1923) adere ao Modernismo. Em 1924 sai Criança meu amor e em 1925 Baladas para El-Rei.
Entre 1925 e 1939 dedicou-se à sua carreira docente publicando vários livros infantis e fundando, em 1934 a Biblioteca Infantil do Rio de Janeiro, a primeira biblioteca infantil do país. A partir deste ano ensinou literatura brasileira em Portugal (Lisboa e Coimbra) e em 1936 foi nomeada para a UFRJ, recém-fundada.
Reaparece no cenário poético após 14 anos de silêncio com Viagem (1939), considerado um marco de maturidade e individualidade na sua obra: recebeu o prêmio de poesia daquele ano da Academia Brasileira de Letras. Daí em diante dedicou-se à carreira literária, publicando regularmente até a sua morte. Vários de seus livros são inspirados nas muitas viagens que fez, viagens estas de grande significação, pois a autora extraiu do contato com gente, costumes e idiomas diferentes matéria de melhor compreensão da vida e da humanidade.
Entre os vários livros de poesia publicados após 1939 tem-se: Vaga Música (1942), Mar Absoluto e Outros Poemas (1945), Retrato Natural (1949), Romanceiro da Inconfidência (1953), Metal Rosicler (1960), Poemas Escritos na Índia (1962), Solombra (1963) e Ou Isto ou Aquilo (temática infantil, 1964).
Escreveu também em prosa, dedicando-se a assuntos pedagógicos e folclóricos. Produziu também prosa lírica, com temas versando sobre sua infância, suas viagens e crônicas circunstanciais. Algumas de suas obras em prosa: Giroflê giroflá (1956), Escolha seu Sonho (1964) e Inéditos (crônicas - 1968).

Fonte: http://www.astormentas.com/din/poema.asp?key=5292&titulo=Biografia

HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

FRASES

  • (…) cada língua é um mundo (…) cada cultura é uma galáxia
    com seus próprios critérios de bondade, beleza e verdade.

    Raimon Panikkar (1998)


  • Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo(...)
    Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer(...)

    Fernando Pessoa (1888 – 1935)

  • A pátria não é a raça, não é o meio,não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos:é o idioma criado ou herdado pelo povo.
    Olavo Bilac (1865 – 1918)

  • Saudades, só portugueses / Conseguem senti-las bem / Porque têm essa palavra / Para dizer que as têm.
    Fernando Pessoa (1888 – 1935)

  • Minha pátria é a língua portuguesa.
    Fernando Pessoa (1888 – 1935)

  • As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais:as coisas serão ditas sem eu as ter dito.
    Clarice Lispector (1920 – 1977)

  • Criar raízes quiçá seja a necessidade mais importante da alma humana. É uma das mais difíceis de se definir(...)
    Simone Weil (1909 – 1943)

  • Uma língua não nasce em dia e hora certa, nem evoluciona, num momento, de um estado a outro.
    Carolina Michëlis de Vasconcelos (1851 – 1925)


  • A língua é minha pátria e eu não tenho pátria: tenho mátria
    E quero frátria...
    Caetano Veloso (1942 - )

  • Última flor do Lácio, inculta e bela(...) Ouro nativo, que na ganga impuraA bruta mina entre os cascalhos vela...
    Olavo Bilac (1865-1918)

  • Língua mãe de uma pátria universal, mestiçagem de antigos árabesluta e trabalho da raça africana,mescla de sangue da América.
    Wanderlino Arruda, 2005

  • (...)Donzela meiga que, deixando o Lácio, abandona os umbrais do seu palácio, para ser de um povo o glorioso idioma!...
    Waldin de Lima, 1989


  • Uma linguagem comum Importante fator / Para o entendimento / Que é semente do fruto / Da razão e do amor (,,,)
    Martinho da Vila / Elton Medeiros

  • A nossa língua comum foi construída por laços antigos, tão antigos que por vezes lhes perdemos o rasto.
    Mia Couto (1955- )

  • A lusofonia é futuro porque tem passado e presente e vinca na história dos povos lusófonos, abrindo os sulcos do futuro, para a semente ser flor, em liberdade...
    João Padrão, 1994

  • Não és mais do que as outras, mas és nossa, e crescemos em ti, nem se imagina que alguma vez uma outra língua possa pôr-te incolor, ou inodora, insossa.
    Vasco Graça Moura (1942 - )

  • (...) Da minha língua vê-se o mar.
    Vergílio Ferreira (1916-1996).

  • Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos.
    Cora Coralina (1889 1985)

  • O mar foi ontem o que o idioma pode ser hoje,basta vencer alguns Adamastores.
    Mia Couto (1955- )

  • As línguas aprendem-se, não como uma parte da instrução ou da sabedoria, mas como um instrumento para adquirira instrução e para comunicar aos outros.
    João Amós Comênio (1592-1670).

LÍNGUA
















Caetano Veloso


Gosto de sentir a minha língua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior
E deixa os portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala mangueira! Fala!
Flor do Lácio Sambódromo
Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode
Esta língua?
Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas
Vamos na velô da dicção choo choo de
Carmen Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E - xeque-mate - explique-nos
Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da
TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em Ã
De coisas como Rã e Imã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon
Chevalier
Glauco Matoso e Arrigo Barnabé e Maria da
Fé e Arrigo Barnabé
Flor do Lácio Sambódromo
Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode
Esta língua?
Incrível
É melhor fazer um canção
Está provado que só é possível
Filosofar em alemão
Se você tem uma idéia incrível
É melhor fazer um canção
Está provado que só é possível
Filosofar em alemão
Blitz quer dizer corísco
Hollyood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o
Recôncavo
Meu medo!
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria: tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta e prosa caótica
Ótica futura
Samba -rap, chic-left com banana
Será que ela está no Pão de Açúcar?
Tá craude brô você e tu lhe amo
Qué queu te faço, nego?
Bote ligeiro
Nós canto-falamos como que inveja negros
Que sofrem horrores no gueto do Harlem
Lívros, discos, vídeos à mancheia
E deixe que digam, que pensem e que falem

LÍNGUA PORTUGUESA













Olavo Bilac
(1865 - 1918)

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amote assim, desconhecida e obscura,

Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma

De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"

E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Fonte: http://intervox.nce.ufrj.br/~edpaes/flor.htm